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Ajustes na alimentação familiar durante o tratamento de disfagia
Alimentação da família no pós-AVC
O tema da II SEMANA AÇÃO AVC, evento realizado pela ASSOCIAÇÃO AÇÃO AVC em 2022, foi AVC - UMA DOENÇA DA FAMÍLIA.
A fonoaudióloga Bruna Dorta fala sobre a importância dos ajustes na alimentação familiar durante o tratamento de disfagia.
A alimentação é o processo responsável por manter os indivíduos nutridos e hidratados. O alimento é transportado da boca até o estômago através do ato da deglutição, que é o ato de engolir.
O que é disfagia?
A terapia fonoaudiológica tem por objetivo reabilitar esses pacientes para uma alimentação segura, eficaz e eficiente.
Para isso contamos com a participação da família, que é um dos pilares nesse processo de reabilitação auxiliando nos estímulos e exercícios.
Além de estar com o paciente na preparação e na oferta da dieta por via oral.
O profissional fonoaudiólogo é responsável por:
- Avaliar a função de alimentação contribuindo no diagnóstico e na causa da disfagia;
- Avaliar a capacidade de proteção do sistema respiratório;
- Indicar vias alternativas de alimentação;
- Realiza a intervenção de forma direta e indireta com paciente através de estímulos sensoriais, táteis, gustativos, térmicos;
- Exercícios de força, mobilidade entre outros;
- Nortear equipe e família em relação às melhores atitudes acerca da alimentação.
O profissional orienta quanto à forma, temperatura e consistências ideais dos alimentos, podendo ser:
- Dieta líquidos-pastosos:
São aqueles alimentos mais liquidificados. - Dieta pastosa:
Aquele alimento que pode ser amassado ou triturado, que vai ter um volume e um peso maior. - Dieta branda:
São alimentos sólidos, que podem ser macios, secos ou mais duros.
O profissional pode auxiliar na seleção dos utensílios, como copo, colher e garfo, as posturas em relação à oferta da dieta e o comportamento facilitador na oferta dessa dieta por via oral e uso de manobras facilitadoras de modo a promover segurança na alimentação e consequentemente na saúde e na qualidade de vida desse paciente.
Qualidade de vida na disfagia
A promoção da qualidade de vida em pacientes disfágicos visa em seu atendimento oferecer principalmente suporte e orientações para os seus familiares e cuidadores, assim diminuindo riscos com alimentação, como por exemplo de broncoaspiração.
A broncoaspiração ocorre quando esse alimento líquido ou saliva penetra nas vias aéreas e podem chegar até o pulmão desse paciente.
O objetivo é permitir que o paciente esteja com alimentação segura contribuindo também para o seu estado nutricional.
A alimentação tem uma importância fundamental no tratamento da disfagia, não só para o paciente, mas para a família, impactando muito na saúde e no emocional do paciente e no ambiente familiar
A dieta deve levar em consideração:
- A história clínica do paciente
- Quais são as suas preferências alimentares
- O que ele deseja comer
- Qual é o seu hábito alimentar
- O que ele está acostumado a comer
- Como é as suas refeições do dia-a-dia
- Quais os horários que ele prefere comer
- Como é a sua rotina de vida diária
- Como a alimentação está inserida nessa rotina
- O seu estado nutricional
- O tipo e o grau da disfagia
Assim conseguimos selecionar a melhor consistência e adaptar essas Preparações alimentares para o paciente.
A alimentação precisa ficar de forma segura e eficiente.
Pois assim o paciente vai manter o seu estado nutricional de forma satisfatória e vai fazer a ingestão por via oral de forma segura.
Prazer alimentar e visual do prato
Manter as preparações atrativas, criativas, saborosas e adaptar as preferências alimentares do paciente e do seu ciclo familiar dentro da prescrição nutricional e da consistência que foi definida como segura é o principal desafio para os familiares.
Manter o visual do prato vai interferir muito no despertar do paciente para o prazer alimentar, à vontade de comer e como ele vai está interferindo também na deglutição.
O processo de deglutição começa na fase antecipatória.
E o que é isso significa?
É você olhar para esse prato e despertar a vontade de comer e nesse momento você já vai deglutindo a saliva e vai preparando o seu corpo para aquela refeição.
Então ao visualizar um prato onde esteja ali diferentes cores, diferentes preparações, com sabores diferentes e com temperaturas diferentes, faz com que você desperte a vontade de comer somente olhando para esse prato que tem um visual muito atrativo ele está ali em consistência pastosa.
Quando pensamos em comida pastosa, na maioria das vezes remete a não querer aquela comida pois será liquidificada, mas olhando para o prato onde tem ali diferentes preparações da mesma consistência já desperta a vontade de comer, para saber o que é aquilo e como foi montado aquele prato diferente.
Imagina todas as preparações como: desjejum, da colação (lanche da manhã), almoço, o lanche da tarde, o jantar e a ceia é apenas uma papa, onde está ali tudo no potinho de uma coloração esbranquiçada e que não apresenta nenhum atrativo.
O ideal é que nessas preparações não seja batido tudo junto.
Separe em uma porção os legumes e as verduras, em uma outra porção o feijão e uma outra porção o arroz ou uma raiz por exemplo e uma outra porção a proteína.
Neste exemplo você já vai ter pelo menos três ou quatro porções diferentes fazendo com que o paciente tenha sabores e texturas diferentes e despertando a vontade de comer cada uma delas.
Quando no prato existem sabores diferentes faz com que o paciente tenha mais vontade de comer e queira comer toda a porção.
Diferente de quando todo o alimento é batido junto, ficando apenas com um sabor.
Da mesma forma, o jantar parece ser uma outra sopa, com outros outros alimentos batidos, mas também está tudo junto.
Resgatar o prazer de comer
Resgatar esse prazer alimentar é muito importante no tratamento da disfagia.
Aquele paciente que precisa ficar por um tempo prolongado numa mesma consistência, ao longo desse período ele vai perdendo a vontade de comer.
Fazendo com que assim diminua a sua ingesta da alimentação e provoca uma alteração do seu estado nutricional levando a esse paciente a uma desnutrição.
Fazer preparações atrativas e com diferentes cores no prato desperta a vontade de comer.
Podendo ser um desafio para a família, pois junto com outras preparações existe a rotina com esse paciente que muitas vezes pode ser desgastante.
Mas fazer essa preparação diferente pode auxiliar o paciente a comer melhor e favorecendo assim um ambiente mais propenso para esse tratamento da disfagia.
Comer é um ato biopsicossocial
A preparação do alimento pode ser diferente do cardápio da família .
O paciente pode estar com uma alimentação pastosa e o restante da família está comendo alimentos sólidos.
Mas é importante o envolvimento deste paciente no momento da refeição,
evitando assim o isolamento social e o distanciamento da família.
É importante trazer esse paciente para o momento da refeição, a alimentação é também um momento social onde ali a família se reúne e não somente para comer mas também para conversar, colocar o papo em dia e trazer esse paciente para esse momento é também inseri-lo no contexto social.
Está ali junto da sua família para aquele momento prazeroso.
É comum perceber a oferta da dieta primeiro do paciente disfágico por ele apresentar dificuldade e por apresentar uma velocidade de oferta mais devagar, levar um período maior para comer e depois a família se reunir para então comer.
O objetivo é auxiliar no resgate de um dos maiores prazeres do ser humano que é o ato de “comer”, um ato biopsicossocial, ou seja, comemos para nutrir o corpo, mas também para alimentar nossas emoções e relacionamentos sociais”
É importante fazer com que o paciente esteja no momento da refeição, junto com a sua família, pois além da refeição é um momento onde ele vai estar ali junto com os seus familiares para conversar,trocar ideias, falar sobre coisas do dia-a-dia e assim fazendo com que o paciente esteja presente no momento das decisões da família, nos momentos de conversa, nos momentos de interação.
Cuidados com a oferta da dieta por via oral
Algumas orientações básicas para oferta dessa dieta por via oral
1 - Paciente precisa estar sentado e acordado:
Para receber o alimento pela boca é necessário acomodar esse paciente numa cadeira, poltrona ou se o paciente estiver restrito a cama fazer com que a sua elevação esteja acima de 60 graus, para que assim ele possa está sentado para receber a comida de forma segura.
2 - Ofertar em pequenas colheradas:
Para que o paciente tenha um melhor controle do alimento dentro da boca
3 - Aguardar a deglutição para a próxima colherada:
Evite com que a velocidade da oferta seja muito rápida para que o paciente não canse ao final dessa refeição.
4 - Evitar distrações
5 - Evite conversas paralelas:
Principalmente quando o paciente estiver com alimentos dentro da boca.
6- Aguardar pelo menos 30 minutos após a refeição para deitar o paciente
O paciente pode ter orientações mais específicas, como por exemplo: uso de espessantes, alguma adaptação na consistência da dieta ou até mesmo o uso de manobras facilitadoras durante a deglutição.
A relação familiar é um aspecto fundamental no tratamento, a dificuldade do paciente em se alimentar impacta muito na vida da família em todos os aspectos.
Ao ver seu familiar com essa dificuldade traz um sentimento muito forte de fragilidade.
A assistência multidisciplinar é fundamental para as famílias e para o sucesso do tratamento.
Então poder contar com assistência multidisciplinar do médico, enfermeiro fonoaudiólogo, fisioterapeuta e nutricionista é fundamental para a família ter um melhor resultado durante o processo terapêutico.
*Este vídeo faz parte da programação da II SEMANA AÇÃO AVC (evento destinado a pacientes e familiares de AVC, promovido pela Associação AÇÃO AVC).