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TOXINA BOTULÍNICA NO TRATAMENTO DO AVC
Toxina Botulínica para tratamento da espasticidade após AVC
O uso da toxina botulínica no tratamento do AVC
A espasticidade é comum em quem sofreu um AVC, os movimentos ficam diminuídos e os músculos fracos, com tendência em ficarem endurecidos e resistentes ao movimento passivo. Um exemplo muito comum em quem teve AVC é ficar com a mão fechada em forma de garra.
Alguns casos podem ser tratados com a toxina botulínica.
Assista ao video do neurologista Dr. Márcio Pena sobre o assunto.
O que ocorre no cérebro quando ocorre um AVC?
O Acidente Vascular Cerebral isquêmico, que representa 80% dos casos, ocorre quando o vaso cerebral é obstruído por um trombo e a região atingida morre, por falta de oxigênio e nutrientes que o tecido cerebral recebe através do sangue.
No caso do AVC hemorrágico, que representa cerca de 15% dos casos, um vaso se rompe provocando um sangramento, com a morte da região atingida, pois o sangue que está fora do vaso não nutre o tecido cerebral.
O outro tipo de AVC, menos comum, é denominado hemorragia subaracnóide, quando um aneurisma se rompe, provocando também um sangramento. Quando ele se rompe acaba banhando todo o espaço subaracnóide do cérebro e o sangue nesse espaço atrapalha toda a dinâmica de circulação do cérebro.
O rompimento dos aneurismas cerebrais e as hemorragias subaracnóideas, são cerca de 5% dos casos.
O que um AVC pode representar na vida de uma pessoa?
O cérebro controla os movimentos, sentidos e sentimentos. Então de certa forma, a pessoa que sofreu AVC pode ter dificuldades de movimento, dificuldades sensitivas diversas, alterações do humor, do pensamento, ansiedade e outras diversas dificuldades que podem se instalar. É importante ressaltar que o AVC não atinge somente quem sofreu o evento mas o impacto também afeta as pessoas que cuidam dessa pessoa.
Dificuldades Motoras
Cerca de 65% dos que sofrem um AVC apresentam a chamada hemiparesia.
Hemi = quer dizer metade
Paresia = fraqueza
Hemiparesia significa fraqueza em uma metade do corpo e pode ser bastante incapacitante.
O tratamento é a reabilitação com uma equipe multiprofissional, envolvendo principalmente fisioterapeuta e terapeuta ocupacional.
Mais da metade das pessoas que tiveram hemiparesia podem desenvolver contraturas musculares em até 1 ano após o AVC. Os maiores problemas relacionados às contraturas são: dor, lesões na pele, deformidades e dificuldades nos cuidados a essa pessoa. A reabilitação multiprofissional é s fundamental nesses casos.
Geralmente essa contratura ocorre devido a espasticidade.
O que é espasticidade?
É uma forma de adaptação dos comandos motores do sistema nervoso que pode ocorrer depois de um AVC, não somente depois do AVC, mas também por outras intercorrências do sistema nervoso central, mas como o AVC é o mais comum, é a principal causa de espasticidade.
A espasticidade é uma perturbação da ativação muscular que afeta cerca de 30% das pessoas após um AVC.
Dificuldades no controle dos movimentos voluntários. Afeta as atividades de vida diária. Em doentes mais incapacitados, dificulta o seu manuseamento e a prestação de assistência por parte dos cuidadores.
Como perceber se a pessoa apresenta espasticidade?
Os movimentos estão diminuídos e os músculos fracos, alguns deles com tendência de ficarem endurecidos e resistentes ao movimento passivo.
A pessoa que sofreu o AVC tenta movimentar aquela articulação, tentando puxar aquele músculo envolvido e ele está resistente, pode ser comparado à resistência de um canivete, quando aberto.
Devemos tratar a espasticidade?
Em algumas situações sim:
- Se a espasticidade estiver dificultando a função do membro superior como movimentos como pegar um objeto, por exemplo
- Se estiver impossibilitando a função do membro inferior atrapalhando ou impedindo a dinâmica do caminhar
- Se estivar causando dor
- Se a pessoa desenvolveu uma deformidade, uma contratura.
Como tratar a espasticidade muscular ?
- Reabilitação multiprofissional: fisioterapia, terapia ocupacional, psicologia, enfermagem e serviço social – que atua no auxílio do paciente na sua inclusão na comunidade diante das dificuldades laborativas causadas pelo AVC, além de informar o acesso ao direitos da pessoa que sofreu o AVC e está eventualmente incapacitado.
- Medicação: medicações orais no AVC costumam ser evitadas, exceto em casos muito especiais, pois o uso acarreta efeitos colaterais. Dessa forma, o principal medicamento utilizado é a toxina botulínica. Mas você deve estar curioso, ele não é usado somente na estética?
A toxina botulínica
Um fato curioso sobre a toxina botulínica: é um veneno que se tornou remédio.
No século XIX, um médico alemão publicou a tese sobre a toxina botulínica, encontrada principalmente em alimentos processados enlatados. Após alguns anos, descobriu-se que a toxina é uma proteína produzida pela bactéria Clostridium botulinum.
Após muitas pesquisas, descobriu-se o mecanismo de ação dessa toxina.
Os neurônios fazem o comando por meio de atividade elétrica até os órgãos efetores, o músculo é um órgão efetor do movimento. O impulso elétrico ao chegar no final do neurônio, no local onde ele de comunica com o músculo, libera substâncias químicas (acetilcolina) que vão estimular o músculo a se contrair e causar o movimento. O que a toxina botulínica faz é impedir que as vesículas que contém a acetilcolina se acoplem no final do neurônio, impedindo que ela seja liberada, o que não vai estimular o receptor do músculo.
Como é feito o tratamento com toxina botulínica?
Precisam ser feitas injeções musculares por médicos especialistas, treinados para tal. Elas precisam ser refeitas após esse período porque depois de um tempo a toxina deixa fazer efeito. Entretanto, só ela isoladamente não adianta, o treino com fisioterapia e/ou terapia ocupacional concomitante é fundamental.
Assim, durante o período de ação da toxina botulínica é importante que a pessoa seja treinada, para que ela consiga ganhar uma função, melhorar a amplitude de movimento ou até ajudar o cuidador para ele ter maior facilidade na questão do cuidado, como por exemplo, auxiliar colocar uma camisa, cuidados de higiene, etc.
As aplicações da Toxina botulinica funcionam bloqueando as terminações nervosas. Isso impede que os neurotransmissores que sinalizam ao músculo para se contraírem cheguem ao nervo. Os efeitos geralmente acontecem após 5 a 10 dias e duram três a quatro meses.
Benefícios do tratamento:
- Controlar a dor
- Prevenir contraturas
- Facilitar cuidados
- Melhorar função, em alguns casos
Contraindicações do tratamento:
Algumas situações ser avaliadas pelo médico, tais como doenças neurológicas, como a esclerose lateral amiotrófica (ELA) e a miastenia gravis, bem como avaliar o uso de determinados medicamentos, como antibióticos aminoglicosídeos, por exemplo.
" A miastenia gravis (MG) é uma doença neuromuscular de origem autoimune, que na sua forma mais comum provoca graus variáveis de cansaço e fraqueza muscular, atingindo preferencialmente os músculos de contração voluntária, tais como os dos braços, pernas, face, olhos e os músculos torácicos responsáveis pela respiração."
Este vídeo faz parte da palestra da SEMANA AÇÃO AVC (evento destinado a pacientes e familiares de AVC), promovido pela Associação AÇÃO AVC, proferida pelo Dr. Márcio Pena