Pacientes e familiares » Vida após o AVC » Rotina após AVC
ADAPTAÇÃO DA CASA APÓS O AVC
Como adequar a casa após o AVC
Adequação da casa no pós-AVC
Após um acidente vascular cerebral (AVC), os desafios da adequação do estilo de vida de quem sofreu o AVC vão afetar o cotidiano, a moradia, as tarefas que serão desenvolvidas no lar e demais atividades antes desenvolvidas e que, possivelmente, precisarão de algumas adaptações, visto que o indivíduo pode apresentar sequelas físicas e motoras. Essas condições físicas podem variar, a depender do quadro de cada um, no entanto, todas vão implicar em modificações na moradia, para que haja mais conforto e segurança para o familiar.
Assista o vídeo sobre o assunto:
Algumas características que podem acontecer após um AVC são: fraqueza corporal, paralisia parcial ou total dos membros corporais, pouco equilíbrio ou pouca coordenação motora, perda de memória, cansaço físico e falta de controle da bexiga ou do intestino.
Com o auxílio da NBR 9050, publicada em 2015 e que trata da acessibilidade nas edificações, nos móveis e nos espaços de modo geral, é possível realizar adaptações nos espaços construídos. Ela nos dá uma série de diretrizes e adequações de como deve ser a habitação ou a construção para pessoas com dificuldades de locomoção, sejam elas permanentes ou temporárias.
Aspectos internos da casa
Primeiro, vamos tratar do deslocamento. É fundamental retirar todas as barreiras físicas que possam causar quedas e tropeços, como carpete, tapetes, capachos de porta e mobiliários pequenos, como mesinhas. Também é importante se preocupar com o piso, pois se ele for liso demais ou rugoso demais pode gerar alguns problemas no deslocamento. Deve ser um piso com a rugosidade média, que seja seguro para o caminhar, evitando quedas. Se a pessoa estiver utilizando cadeira de rodas, o piso liso facilitará o trânsito, evitando trepidações que causam desconforto.
Áreas externas geralmente têm um piso muito rugoso ou possuem grama, o que pode causar trepidação e queda. É indicado que, quando a pessoa for circular em ambientes externos que possuem esse piso mais irregular, ela esteja acompanhada de uma pessoa ou de um equipamento de segurança.
Em relação aos espaços de circulação e corredores da casa, é importante que se tenha pelo menos 1 metro de largura, podendo chegar até 1 metro e 20 centímetros. Isso é importante, pois no caso de se utilizar a cadeira de rodas, os espaços de porta e de corredores podem ser muito estreitos e não permitir que a cadeira transite com segurança. Sendo assim, é importante reorganizar os móveis dos ambientes, a fim de que esse espaço seja confortável, retirando obstáculos que possam ocasionar quedas e acidentes domésticos.
Deve haver espaço suficiente para o giro da cadeira de rodas no ambiente e não somente os 90 centímetros da cadeira. As portas devem abrir 90 graus, formando um ângulo reto com a parede. Se for necessário, deve-se mudar a porta do local, para que ela abra para fora, permitindo o acesso em espaços menores, como é o caso dos banheiros. Se possível, trocar a porta por uma de correr, desde que essa substituição facilite o acesso a cômodos menores.
Em relação a desníveis no piso, os degraus podem causar uma queda ou um acidente. Para driblar esse empecilho, você pode instalar rampas de compensado de madeira com revestimento emborrachado, para vencer um ou dois degraus para, por exemplo, ter acesso ao quintal, varanda ou até mesmo a área de serviço. As rampas, pela norma da 9050, tem inclinação de 8,33% a 12,5%. Maior que isso, ela será inacessível.
Na medida do possível, recomenda-se que para fazer uma reforma no ambiente, seja contratado um profissional de arquitetura, pois ele conhece todas as normas técnicas importantes e as recomendações técnicas.
Outra coisa interessante é colocar corrimão e barras de apoio para auxiliar em corredor muito longo ou para vencer degraus. Eles são facilmente encontrados para compra nas lojas de construção e a instalação com parafusamento não é muito difícil. Fique atento para que esse corrimão ou essa barra de apoio tenha uma altura entre 70 e 90 centímetros. Para vencer as dificuldades de circulação no interior das casas, os pacientes pós-AVC contam com o auxílio do fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e o acompanhamento médico regular, que vão dar outros direcionamentos de como acomodar as condições físicas na sua rotina e no seu ambiente.
Quarto
O quarto é um local de grande importância, pois as pessoas permanecem muito tempo nesse ambiente. Por isso, é importante que ele seja confortável, de forma a contribuir com o bem-estar geral do paciente, podendo até facilitar na recuperação. É importante considerar a circulação no local. É fundamental que a porta esteja acessível. O ato de sentar e levantar da cama também é muito importante, sendo necessário uma altura adequada e confortável. É válido adaptar os armários e as gavetas para que o familiar que sofreu o AVC consiga ter um pouco de autonomia na hora de organizar seus pertences. Se a casa possuir mais de um andar, é preferível que a pessoa fique no piso térreo, de preferência em um quarto com banheiro, a fim de facilitar o uso durante a noite.
Também é importante que o quarto tenha uma forma de comunicação com outros ambientes. Isso pode ser feito por meio de telefone próximo da cama, em uma cabeceira, ou com uma campainha. Hoje, existem campainhas no mercado que funcionam sem instalação elétrica. É um dispositivo que não precisa de fios e funciona bastante para quem não pode sair da cama e precisa chamar alguém que esteja em outro cômodo da casa.
Verifique se o layout do quarto permite uma boa circulação entre a cama e o guarda-roupa e entre a porta e a cama, para que seja possível circular de modo geral, além de garantir uma boa higienização. É importante, também, que o quarto possua janela, para que o paciente consiga ver o exterior e também para uma boa ventilação natural, criando uma situação confortável para o usuário. Se possível, coloque uma televisão no local, um aparelho de música ou até mesmo um espaço para leitura, de forma a deixar o ambiente o mais acolhedor possível.
Em relação aos armários, é importante que a pessoa tenha sua roupa do dia a dia organizada em uma altura que ela consiga alcançar, não muito alta e nem muito baixa, assim, ela não precisa abaixar ou elevar muito seu corpo.
Banheiro
O banheiro é sempre um local de insegurança para qualquer pessoa, afinal, você pode sofrer algum acidente, visto que se trata de uma área molhada e esse piso molhado pode causar quedas e agravar a situação de saúde do paciente. Em relação às portas do banheiro, se o paciente estiver fazendo uso de cadeira de rodas, é importante que tenha uma largura livre de 80 centímetros. A NBR 9050 é muito específica e detalhada em relação a como deve ser um banheiro para pessoas em cadeira de rodas ou com dificuldade de locomoção. É importante que ao entrar no banheiro com uma cadeira de rodas, consiga fechar a porta. Por isso, muitas vezes a porta pode sofrer modificação para que esse giro seja feito para fora do banheiro e a pessoa consiga fechar a porta, usando o banheiro com autonomia e independência. Em muitos casos, é importante contratar o arquiteto para que ele possa fazer a reforma do banheiro de modo profissional, sabendo utilizar as normas técnicas.
O tamanho de um banheiro acessível é maior do que o convencional. Ele terá um dimensionamento em torno de 2 metros de largura por 2 metros e 40 centímetros de profundidade. Dentro do banheiro deve ter um diâmetro livre para o giro da cadeira de rodas, de um metro e meio, sem qualquer barreira nesse giro. A bacia sanitária e a pia devem estar livres nessa zona de circulação, para que a cadeira possa fazer o seu giro completo.
Dentro do banheiro existem as barras de apoio, que podem ser instaladas na proximidade do vaso e também do chuveiro. Essas barras de apoio têm alturas específicas, bem como os acessórios. Por isso, é muito importante consultar um profissional, caso a família não saiba realizar essas alterações. Há necessidade, também, de que na área de banho seja possível se banhar na posição sentada. Existem cadeiras específicas para banho, mas também é possível colocar um assento fixo.
Em relação às torneiras, existem as com alavanca, que permitem acionamento com o cotovelo, caso a pessoa tenha perdido a habilidade manual de pegas e manejos. Há também a possibilidade de acionamento por aproximação, quando você encosta na torneira e ela libera a água, tanto para o chuveiro, como para a torneira. Também é possível que nas portas sejam instaladas maçanetas do tipo alavanca, que permitem que o giro seja feito com o cotovelo e não com a mão.
Em relação aos armários dentro do banheiro, que geralmente ficam embaixo da pia, são um obstáculo para o cadeirante, pois ele não vai conseguir se aproximar da pia. Dessa forma, o melhor é que não se tenha armário embaixo da bancada ou que utilize uma pia com coluna, para que se tenha um espaço livre embaixo da pia para melhor adequação das pernas.
O assento do vaso sanitário precisa ter uma altura acessível a cadeira e isso pode ser feito com a base de alvenaria embaixo do vaso ou é possível comprar um assento específico para pessoas que fazem uso de cadeira de rodas. É um assento mais espesso, em que o topo do vaso sanitário fica na mesma altura da cadeira de rodas, o que gera maior conforto para a pessoa realizar a transferência da cadeira de rodas para o vaso sanitário.
As barras de apoio devem ser colocadas tanto na lateral, como na parte posterior do vaso sanitário. A ducha higiênica, que fica ao lado do vaso, vai facilitar para uma higiene íntima mais adequada. Dentro da área do banho, também é possível ter uma ducha auxiliar, que vai ajudar na higienização caso a pessoa precise tomar banho sentada. O box de vidro temperado não é adequado, porque ele dificulta o acesso e o auxílio de uma pessoa na hora do banho. O ideal é que seja uma área de banho com cortina. O uso de rampas removíveis, feitas de compensado que possuem revestimento emborrachado, ajuda no acesso aos ambientes mais baixos ou mais altos.
Equipamentos elétricos são úteis na higienização. Por exemplo, o barbeador e a escova dental elétrica vão facilitar na hora da higiene. Mas, deve-se lembrar de deixar tomadas próximas, para que o paciente consiga ligar estes equipamentos.
Cozinha
A cozinha é um ambiente que demanda uma atenção importante de adequação. Assim como o banheiro, a cozinha e a área de serviço, por serem ambientes molháveis, podem causar acidentes e necessitam de atenção.
Na cozinha deve-se evitar utilizar prateleiras muito altas ou baixas para colocar a louça do dia a dia, deixando os produtos utilizados com frequência em alturas mais acessíveis, na proximidade do balcão, próximo da zona corporal entre o braço e o quadril, para que a pessoa não faça um esforço muito grande para alcançar esses produtos ou essa louça.
É importante ter uma mesa de refeições na cozinha, mesmo que seja pequena, para que o indivíduo que sofreu AVC não precise se locomover para sala de jantar para fazer uma refeição rápida. A cadeira de rodas precisa, pelo menos, chegar próximo da mesa, para que a pessoa não tenha que se transferir para uma outra cadeira. Dessa forma, a cadeira precisa ser leve, para que possa ser puxada ou empurrada com facilidade, a fim de acomodar a cadeira de rodas.
Evite mesas altas ou com bancos altos, uma vez que não são confortáveis, nem acessíveis, além de não serem adequados para pessoas que estejam em tratamento médico e tem dificuldades de equilíbrio. Ao estar na mesa, evite que o assento do paciente fique de costas para o fogão, pois essa é uma zona quente, que pode também causar acidentes.
Manusear o micro-ondas pode ser uma situação que auxilia a pessoa na sua autonomia em relação ao alimento, mas, a altura do micro-ondas também é importante. Ele não pode ser muito alto ou muito baixo. Tudo que estiver na zona da bancada é muito mais acessível a qualquer pessoa.
Alimentos na geladeira devem estar em uma área visível, que a pessoa consiga acessar com facilidade o que deseja comer. Evite utilizar pratos, travessas e jarras de vidro muito pesados, que possam cair no chão e causar acidentes. O ideal é que todos os utensílios da cozinha sejam de um plástico rígido, que possa ser manuseado com certa leveza.
Os mesmos cuidados da cozinha valem para a área de serviço ou lavanderia, tanto para quem mora em apartamento, como para quem mora em casa, especialmente porque esse piso fica também escorregadio no momento da lavagem de roupas. Também pode haver desníveis do piso da área de serviço em relação ao quintal, por exemplo. Se o paciente estiver em condições de lavar e pendurar sua roupa, evite pendurar no quintal, pois o piso geralmente é terra, grama ou revestimento mais rugoso, o que pode causar um acidente. Em apartamentos, a área de serviço geralmente é um ambiente pequeno, com muitos equipamentos e, em geral, é utilizado um varal de teto, que é desaconselhável para quem tem qualquer problema de saúde. O ideal é que seja utilizado o varal de piso e jamais utilizar escadas para pendurar roupas, pois aumentam os riscos de quedas.
A NBR 9050 encontra-se disponível para acesso na internet. Utilize-a sempre que for fazer uma reforma.
Este vídeo faz parte da palestra da SEMANA AÇÃO AVC (evento destinado a pacientes e familiares de AVC), promovido pela Associação AÇÃO AVC, proferida pela professora Dra. Thaisa Sarmento.